segunda-feira, 19 de março de 2018

Comunidades da Periferia, Quilombos e o Fantástico

Década de 60 do século XVIII no Brasil. Um senhor de escravos utilizados, em sua maioria, na plantação de cana de açúcar, denuncia a fuga de um deles, que resolveu ir para um quilombo próximo como ato de resistência à escravidão. Foi exigida sua devolução vivo ou morto para que sirva de exemplo para os demais, mobilizando-se capitães do mato em seu encalço. O escravo foi devolvido morto com requinte de crueldade. 
Diante da morte do escravo fujão pelas forças policiais e da possibilidade da insurgência dos demais escravos, espertamente o senhor do escravo morto e os das fazendas vizinhas, se solidariza com os demais escravos, inclusive os das propriedades vizinhas, chegando ao ponto de convidá-los à casa grande para manifestar sua solidariedade, culpando os habitantes do quilombo pela sedução do falecido, o que levou ao seu assassinato. Comovidos com a solidariedade, os escravos deixam as senzalas e vão até a casa grande manifestar sua dor e seu pesar, participando do convescote de desagravo à ação dos quilombolas acusados de persuadir os comportados escravos à fuga trazendo tanta dor e desgraça aos que se deixam levar.
Os escravos manifestaram sua solidariedade aos seus senhores.

Ano de 2018. Uma favelada estuda, se forma, tem título de doutorado e se mobiliza contra a sistemática perseguição ao seu povo, vítima de preconceito, constantemente dizimados, assassinados por pertencer a uma classe considerada como "inferior", sem que sejam sequer investigados crimes sistematicamente cometidos. Sua ação é considerada um insulto às "pessoas de bem", isto é, às pessoas com recursos financeiros, os capitalistas e seus serviçais mais próximos, seus defensores melhor remunerados, mais conhecidos como "classe média". 
Foi exigido que se fizesse alguma coisa para parar com a resistência desta favelada e encarregados da ação os capitães do mato urbanos. A favelada foi assassinada com requinte de crueldade.
Diante da morte da favelada de forma ostensiva como aviso aos demais favelados insurgentes, a população de todas as periferias urbanas se rebelou, com a possibilidade de uma revolta de grandes proporções. 
Foi então que um dos membros capitalistas das "pessoas de bem", o das comunicações, espertamente manifestou sua solidariedade aos membros das comunidades das classes "inferiores" e os convidou para o Fantástico, acusando os manifestantes insurgentes pela responsabilidade do crime barbaramente cometido contra sua representante.
Comovidos com a solidariedade, familiares, amigos e correligionários vão ao programa de televisão manifestando sua indignação contra os ativistas insurgentes.
Os representantes das comunidades da periferia manifestaram sua solidariedade aos capitalistas (seu senhores).

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