sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Deus e poder na visão neopetencostal

A "Teoria da Prosperidade", de origem neopetencostal, foi importada dos Estados Unidos e se baseia em trechos da Bíblia Sagrada, tido por eles como o único livro verdadeiro, através do qual, os ensinamentos destes trechos são pinçados para justificar seus dogmas, interpretados pelos líderes religiosos que consideram a religião como um contrato individual entre Deus e homens e se manifesta através do "Espírito Santo" como um dom carismático, assim entendido do carisma (do grego khárisma,atos, graça; favor, benefício, através do latim charísma,àtis, dom da natureza, graça divina), no qual a confissão (exame de consciência no qual o penitente se propõe a reparar o pecado e não mais pecar) e a fidelidade através da obediência à hierarquia e pagamento do dízimo são a parte do crente tendo, em contrapartida, a graça concedida através da cura, do alívio do sofrimento e da concessão de riquezas na parte que cabe a Deus.

Um outro ponto é a autoridade do líder religioso, que recebe de Deus o dom de perdoar e ser o instrumento de concessão de benemerências. Este dom dá a ele a capacidade de interpretar a "palavra de Deus", sem questionamentos, em uma relação de subordinação que durará enquanto o crente estiver naquela denominação, correndo o risco de perder as benemerências caso escolha o líder ou a denominação errados. Embora se considerem cristãos, a relação entre o líder religioso (pastor, bispo, etc) e o crente é a mesma do sumo sacerdote ou profeta e o povo de Israel na antiguidade, considerando-o como autoridade sacerdotal, o que explica a relação entre neopetencostais e o judaísmo fundamentalista. É importante frisar que os judeus são tolerantes e se relacionam com outros povos e outras religiões que não o judaísmo, justamente pelas sua experiências, vítimas de segregação. O mesmo não ocorre com os neopetencostais. Vemos que o Deus dos neopetencostais é vingativo e tem sede de poder, assim como no velho testamento. A bondade de Deus é dirigida apenas aos membros da religião e os infiéis terão um castigo cruel, tal como na inquisição católica.

Importante observar que o empoderamento do crente se dá em caráter individual e não coletivo, tornando-se mérito do crente sua relação com Deus. Quanto mais fé, mais contrita a confissão, maior a contrapartida concedida por Deus. Vemos aqui o conceito de meritocracia nesta relação, ou seja, se alguém sofre, é por sua culpa, já que não houve a expiação (cobrir, expiar, reconciliar, pacificar - a expiação significava, no antigo Israel, tomar um cordeiro e sacrifica-lo para cobrir o pecado - neste caso temos o conceito de Cristo como o cordeiro de Deus). Não existe piedade para o infiel.

Embora, para os neopetencostais, a relação entre o homem e Deus seja individual, todos os crentes pertencem a uma coletividade, que subjugará o mundo através do "poder de Deus" que restaurará o poder de Israel, no conceito existente no Velho Testamento, que serve de alegoria para tais tipos de afirmação, como a reconstrução do Templo de Salomão, por exemplo. 

Dentro deste conceito, nada mais natural do que a tomada do poder político em uma tentativa de instalar uma teocracia com base nos ensinamentos neopetencostais. E aí está o perigo da instituição de um fundamentalismo religioso, quando temos a meritocracia como princípio e o conceito de infiel à todo aquele que não se enquadre como o "povo escolhido" e que não pratique confissão que expie seus pecados.

Muito cuidado, pois estamos a meio caminho de instalar no Brasil uma teocracia fundamentalista onde os infiéis morrerão pela mão dos servos de Deus e os servos de Deus morrerão pelo isolamento do resto do mundo.