segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Solução para o transporte público

 

Em entrevista ao Estado de Minas, Raul Lycurgo, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra), de Belo Horizonte, capital mineira declarou:


"No contrato atual, o ônus recai sobre o usuário pagador. Isso significa que quem vai pagar é o usuário que subir no ônibus naquele momento. Só que a infraestrutura básica deve ser remunerada, quer você use ou não. No Brasil, o serviço de ônibus é rateado só por quem usa, que é, infelizmente, o mais pobre. É um mar de gente que está sendo beneficiada direta ou indiretamente, mas quem paga o sistema? Só quem sobe no ônibus."


Ele defende a "modernização" do custeio do transporte público através de subsídios e outras formas de diluir o probelma da mobilidade por quem não se utiliza do transporte coletivo e argumenta que todos se beneficiam de um sistema de transporte eficaz. E é verdade.


É verdade também que as empresas de transporte coletivo, se privadas visam lucro. Em um sistema liberal capitalista o que vale é o máximo de lucro pelo que é entregue. A forma sugerida nos diz que a coletividade contribuirá para que sejam distribuídos polpudos dividendos aos acionistas. Seria justo dentro da lógica do sistema?


Poderia argumentar que deve existir um órgão público que fiscalize um lucro "aceitável" pelo que será entregue. E existe. Os municípios têm um órgão fiscalizador que regula as tarifas aplicadas e o fornecimento do contratado. Mas sempre existe a possibilidade de inflar os custos apresentados de forma a aumentar os lucros, onerando ainda mais o erário. E, como estamos falando de bilhões, um pequeno percentual dos valores envolvidos é capaz de "comprar" pessoas que fiscalizam.


Por outro lado, temos o comprador. Quando compramos um pacote de sabão em pó ou um achocolatado, escolhemos uma entre várias marcas. Mesmo considerando que a estratégia dos grandes conglomerados é eliminar a concorrência pelo poder econômico comprando as marcas que se tornam populares pelo diferencial da qualidade, ainda temos uma margem de escolha. Mas qual é a possibilidade de escolha de alguém que precisa tomar um ônibus de sua casa até seu local de trabalho? Não temos como escolher porque a nos é oferecido, na maior parte das vezes, uma única opção. A possibilidade apresentada é utilizarmos uma outra modalidade de transporte que será sempre mais cara.


Continuo defendendo que a forma mais eficaz de resolver o fornecimento de bens e serviços monopolizados é garantindo a concorrência ou o poder público assumir o fornecimento de forma a garantir direitos, agora sim, com a possibilidade de diluir os custos entre toda a sociedade.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Assédio Moral e Imbecilidade Sistêmica

As condutas abusivas e o assédio moral no trabalho - Diário do Aço

Uma das características do desgoverno de Bolsonaro é o assédio moral decorrente de patrulhas ideológicas que perseguem e ameaçam servidores públicos, conforme noticia hoje a Folha de São Paulo.


É uma média de 1,2 denúncias por dia durante este desgoverno, acumulando 680 denúncias.
Ser antifascista, por exemplo, é motivo para ser perseguido pelo governo conforme admitiu o Ministro da Justiça à GloboNews ao não negar a existência de dossiê "secreto" produzido por sua pasta que lista 579 servidores públicos. Se o governo é contra o antifascismo, deve ser a favor do fascismo, diz a lógica.
Além das perseguições pessoais, existe ainda o "assédio institucional" que coordena ataques a órgãos públicos feitas por gestores em posições hierárquicas superiores.
Devido a aversão pela ciência e pelo humanismo, vemos a administração pública sendo lançada ao lodaçal da imbecilidade sistêmica.





sábado, 11 de julho de 2020

Ou derrubamos Borba Gato ou seremos governados por ele

Ontem ouvi do Fernando Gabeira sobre a derrubada da estátua de Borba Gato, a ponderação de que é necessário estudar melhor a atuação dos bandeirantes porque foram vítimas de fake news dos jesuítas por frequentemente atacar missões jesuíticas para capturar índios e que, na realidade podem não ter sido tão maus assim.

Só pelo fato dos ataques a indígenas em missões, dou mais crédito aos jesuítas do que aos bandeirantes. De mais a mais, ele foi assassino fugitivo e negociou seu perdão tendo se tornado fiscal da coroa portuguesa e seu grande feito foi ter enriquecido às custas de muita violência como na guerra dos emboabas sendo escravocrata convicto e assassino contumaz.

Não nos esqueçamos que pela falta de coragem no julgamento e derrubada de mitos, o Brasil hoje está nesta precária situação.

Ou derrubamos Borba Gato ou seremos governados por ele.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Deus e poder na visão neopetencostal

A "Teoria da Prosperidade", de origem neopetencostal, foi importada dos Estados Unidos e se baseia em trechos da Bíblia Sagrada, tido por eles como o único livro verdadeiro, através do qual, os ensinamentos destes trechos são pinçados para justificar seus dogmas, interpretados pelos líderes religiosos que consideram a religião como um contrato individual entre Deus e homens e se manifesta através do "Espírito Santo" como um dom carismático, assim entendido do carisma (do grego khárisma,atos, graça; favor, benefício, através do latim charísma,àtis, dom da natureza, graça divina), no qual a confissão (exame de consciência no qual o penitente se propõe a reparar o pecado e não mais pecar) e a fidelidade através da obediência à hierarquia e pagamento do dízimo são a parte do crente tendo, em contrapartida, a graça concedida através da cura, do alívio do sofrimento e da concessão de riquezas na parte que cabe a Deus.

Um outro ponto é a autoridade do líder religioso, que recebe de Deus o dom de perdoar e ser o instrumento de concessão de benemerências. Este dom dá a ele a capacidade de interpretar a "palavra de Deus", sem questionamentos, em uma relação de subordinação que durará enquanto o crente estiver naquela denominação, correndo o risco de perder as benemerências caso escolha o líder ou a denominação errados. Embora se considerem cristãos, a relação entre o líder religioso (pastor, bispo, etc) e o crente é a mesma do sumo sacerdote ou profeta e o povo de Israel na antiguidade, considerando-o como autoridade sacerdotal, o que explica a relação entre neopetencostais e o judaísmo fundamentalista. É importante frisar que os judeus são tolerantes e se relacionam com outros povos e outras religiões que não o judaísmo, justamente pelas sua experiências, vítimas de segregação. O mesmo não ocorre com os neopetencostais. Vemos que o Deus dos neopetencostais é vingativo e tem sede de poder, assim como no velho testamento. A bondade de Deus é dirigida apenas aos membros da religião e os infiéis terão um castigo cruel, tal como na inquisição católica.

Importante observar que o empoderamento do crente se dá em caráter individual e não coletivo, tornando-se mérito do crente sua relação com Deus. Quanto mais fé, mais contrita a confissão, maior a contrapartida concedida por Deus. Vemos aqui o conceito de meritocracia nesta relação, ou seja, se alguém sofre, é por sua culpa, já que não houve a expiação (cobrir, expiar, reconciliar, pacificar - a expiação significava, no antigo Israel, tomar um cordeiro e sacrifica-lo para cobrir o pecado - neste caso temos o conceito de Cristo como o cordeiro de Deus). Não existe piedade para o infiel.

Embora, para os neopetencostais, a relação entre o homem e Deus seja individual, todos os crentes pertencem a uma coletividade, que subjugará o mundo através do "poder de Deus" que restaurará o poder de Israel, no conceito existente no Velho Testamento, que serve de alegoria para tais tipos de afirmação, como a reconstrução do Templo de Salomão, por exemplo. 

Dentro deste conceito, nada mais natural do que a tomada do poder político em uma tentativa de instalar uma teocracia com base nos ensinamentos neopetencostais. E aí está o perigo da instituição de um fundamentalismo religioso, quando temos a meritocracia como princípio e o conceito de infiel à todo aquele que não se enquadre como o "povo escolhido" e que não pratique confissão que expie seus pecados.

Muito cuidado, pois estamos a meio caminho de instalar no Brasil uma teocracia fundamentalista onde os infiéis morrerão pela mão dos servos de Deus e os servos de Deus morrerão pelo isolamento do resto do mundo.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O combate à indolência e malandragem brasileiras

Assisto ao noticiário e vejo que as raças inferiores continuam sendo consideradas indolentes e malandras e, por isso mesmo combatidas.

A ideia do brasileiro amistoso e pacífico é mentirosa e baseia-se no "princípio científico" do darwinismo social, conceito moldado por pessoas como Francis Galton a partir dos estudos de Charles Darwin, seu primo, no final do século XIX.

Já não é de hoje que sabemos que o Brasil tem maioria negra ou mestiça devido aos quatrocentos anos de escravidão. Esta maioria, entretanto, não se reflete nas elites provenientes da Europa. E o negro, pelos "estudos científicos" da época eram considerados "raça inferior". Sabemos (embora alguns teimem ignorar) que sequer existe mais de uma raça humana e que os indivíduos têm diferentes características conforme a região de origem, caminhando para uma homogenização devido à mobilidade facilitada.

No século XIX existia a intenção de "branqueamento" do brasileiro em um projeto de sociedade "higienizada" (ainda tentam isso por incrível que pareça) moral e culturalmente através da miscigenação, ideia abominada pelos europeus que consideravam a mistura de raças uma degeneração.

Toda esta baboseira que se pretendia "científica", fez com que o tratamento dado aos escravos fosse diferente do que foi dado aos imigrantes europeus, que chegavam ao Brasil com emprego garantido embora e, por isso mesmo, mal remunerados mas sob regime de colonato, isto é, como colono com direito a parte da produção. E o interessante é que grande parte dos miseráveis e incultos colonos que se dispunham vir, não tinham recursos e recebiam um adiantamento pago através de desconto do rendimento da produção, acrescido de juros, o que os tornavam uma espécie de escravos brancos muito mais baratos do que os negros, já que o proprietário das terras não tinha obrigação de alimentar e vestir os colonos. Assim, alforriavam os escravos para ficar com os colonos, ganhando em troca, o branqueamento da sociedade, embora em grande parte os europeus não tivessem habilidade suficiente para o cultivo que tornou alguns ex escravos colonos.

Para justificar a troca dos escravos por colonos, era utilizado o argumento da indolência e falta de capacidade intelectual da "raça negra", daí o mito da indolência dos brasileiros, na maior parte mestiços mesmo que livres.

O ex escravo alforriado era colocado em liberdade sem a mínima condição de sobrevivência e vagava executando trabalhos subalternos, pedindo ou roubando para sobrevivência, vivendo às escondidas e mentindo sobre sua situação de desocupados, já que esta condição era ilegal e poderiam ser presos, daí a fama de malandros. Estas pessoas mais pobres viviam em condições sub humanas em favelas e cortiços.

Ainda hoje muitos vivem em favelas e cortiços, chamados eufemisticamente de "comunidade" (que deveria ser qualquer conjunto habitacional). São, na maioria, pessoas honestas e trabalhadoras mas sem condições financeiras vivendo em locais onde existem milícias, negócios ilegais e tráfico de drogas

As comunidades, ainda hoje, são considerados locais onde habitam pessoas de raças inferiores que não têm os mesmos direitos das elites, que habitam locais diferenciados e confortáveis sempre defendidos pelo Estado. 

Nunca se deu trégua ao combate à indolência e malandragem dos brasileiros obrigados a conviver com traficantes. Ameaçados tanto pelas milícias ilegais  quanto pela polícia, que defende as pessoas das elites. 

Às vezes existe o amparo às raças inferiores para melhor proteção das elites quando em governos chamados progressistas. Outras vezes, como agora, existe tão somente a repressão. 

Quando nos reconheceremos como uma só raça?


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Ascensão dos mitos no Brasil de hoje

Normalmente, em tempos de crise, o que o pensamento de matriz marxista ou as esquerdas acreditam, é que haverá o reconhecimento da exploração das classes dominantes e a adesão às idéias de matriz socialista. Mas esta não é uma verdade absoluta. A extrema direita, por vezes, tem argumentos que extrapolam o pensamento de matriz socialista, o que explica a ascensão do fascismo na década de 30 e, de novo, nos tempos atuais.

A classe média baixa, por estar acima dos miseráveis, se julga mais próxima das elites e a estas se junta para doutrinação das classes mais baixas, tendo como argumento o apelo à defesa abstrata da família e da nação através da "defesa dos costumes e da ordem", o que leva à xenofobia e ao preconceito.

No Brasil, tivemos outros elementos para a argumentação da "defesa dos costumes e da ordem".

Em primeiro lugar, tivemos a concessão, por parte da elite, da tomada do poder por parte se setor progressista. Progressista mas não de pensamento marxista, podendo, no máximo, ser considerada uma social democracia de viés liberal, que foram os governos do PT. Concessão esta que teve um prazo de validade que vencido desencadeou um processo de retomada do poder pela aparente via democrática embora não tenha tenha deixado de ser golpe, utilizando-se do judiciário para desacreditar não só o PT, mas todos os partidos mais à esquerda do espectro político juntando-os em um só saco com carimbo de PT, embora houvessem diferenças abissais entre tais partidos. Acrescente-se a isto, a campanha midiática massiva para convencer a maioria da população da corrupção de tais partidos que se deixaram colocar neste saco comum com carimbo de PT.

Embora as elites consigam manobrar as massas, o povo não é ignorante e percebe toda a manobra efetuada pelo judiciário e pela mídia fazendo com que se desacredite não só a classe política como um todo, mas também a justiça. Está preparado o terreno propício para a instalação de regime de extrema direita.

Se a mídia e o poder judiciário esperavam pelo retorno da política anterior ao PT, com PSDB e DEM, se enganou.

Tivemos a ascensão de quem se denominou "defensor dos costumes e da ordem". Entra em campo a "Liga da Justiça", que nada tem a ver com o direito; pelo contrário; temos agora justiceiros que condenam sem necessidade de julgamentos que passam a ser considerados inócuos. 

De um lado, um juiz condena um ex-presidente com base em "fatos indeterminados", com apoio explícito e implícito dos tribunais superiores em uma franca agressão ao Direito. De outro, temos a defesa da família, em uma cruzada contra a doutrinação de nossos filhos menores de teorias de permissividade sexual, em escolas públicas, que nunca existiu. Assim, com base em mentiras, apelou-se aos sentimentos de defesa da família, da pátria e de Deus por parte da população que, com sede de vingança contra uma política corrupta e um direito injusto, resolveu por fim a este estado de coisas através dos justiceiros que atuaram em conjunto para a instalação de um regime de extrema direita fascista, preconceituoso e retrógrado não por culpa do povo, mas pela exploração dos sentimentos intrínsecos inerentes ao ser humano. 



Leitura recomendada:
Psicologia de Massas do Fascismo
Livro por Wilhelm Reich

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O totalitarismo da esquerda de novo

É uma constante o velho chavão de que no Brasil, os comunistas estão tentando dar um golpe e tomar o poder. 

Este argumento é mais presente quando fazemos analogia do candidato da extrema direita com fascismo, quando procuram contrapor ao fascismo o comunismo argumentando que na União Soviética, China e Coréia do Norte, existiram crimes de Estado contra a sociedade.

Nem todo fascista é nazista mas o nazismo é fascista, inspirado na Itália de Mussolini. Tivemos regimes fascistas que perduraram, como, por exemplo, na Espanha e em Portugal e em nenhum dos dois países houve perseguição e morte aos judeus. Todos, entretanto, foram totalitários.

Se todos os governos fascistas foram totalitários embora tenham cometido mais ou menos agressões aos direitos humanos, o mesmo não podemos dizer de partidos comunistas, que não se restringem a países totalitários. Na França, diversas vezes membros do partido comunista francês foram indicados como chefes de Governo ou de Estado. O mesmo ocorreu na Dinamarca, na Grécia, na Áustria e em outros países, onde foram indicados, fizeram o governo e foram substituídos por pessoas de outros partidos. Temos assim, partidos comunistas que atuam democraticamente.

Conforme dissemos, alguns países fascistas cometeram mais crimes contra os direitos humanos, como a Alemanha, indubitavelmente a que maior atrocidade cometeu, e outros, como Salazar em Portugal ou Franco na Espanha, cometeram crimes contra os direitos humanos em menor intensidade. Da mesma forma, temos países comunistas que cometeram ou que ainda cometem crimes bárbaros contra os direitos humanos.

Capital são bens escassos e qualquer regime capitalista faz com que o detentor do capital procure pagar o menos possível a um exército de dependentes alijados da propriedade e compele os capitalistas a travar um combate entre si procurando acumular cada vez mais capital em uma guerra fratricida que tem como único objetivo o acúmulo e a concentração de riqueza. Esta luta produz fome, doenças e morte de milhões. Estas mortes são aceitas, entretanto, como fatalidades naturais, quando, ao contrário, são causadas pela apropriação ou desapropriação de meios naturais pelos capitalistas assim como acontecia aos suseranos na antiguidade.

Quando se atribuem milhões mortos pelo comunismo, na realidade se faz referência à violação de direitos humanos em lutas fratricidas como na União Soviética de Stalim, que na disputa pelo poder eliminou muitos comunistas, assim como ocorre em outros tantos regimes não comunistas nem fascistas que, muitas das vezes são aceitos pelos capitalistas por questões de estratégia no afã de acumular ainda mais riquezas independente no número de mortes.

A associação dos partidos de esquerda em geral com países totalitários é uma propaganda genérica que tenta (e em muitos casos consegue) convencer as pessoas a se aliar a seus algozes quando deveriam ser encontradas formas de equalizar oportunidades para eliminar a exclusão social, mas para este tipo de iniciativa, se utilizam exemplos estapafúrdios de totalitarismo como se os partidos de esquerda no Brasil estivessem arregimentando combatentes para uma guerra civil, o que não é verdade, já que houve, em passado recente, governos de esquerda democráticos.

Não deixem convencê-los de que o melhor é o fascismo, pois este será sempre totalitário e antidemocrático.