domingo, 12 de maio de 2013

Intercâmbio de Medicina - Uma oportunidade e tanto

Temos uma tradição no Brasil: os formados em medicina, em geral, são de famílias ricas, que podem sustentar o aluno em um curso que exige dedicação exclusiva. Normalmente os pobres não conseguem manter em regime integral, um médico durante o curso.

Como consequência, temos muitos profissionais de medicina em grandes centros e nenhum em regiões carentes do Brasil. Um médico quer ter sua independência financeira. E com toda a razão, pois afinal de contas, anos de dedicação exclusiva ao curso merece uma recompensa à altura. Assim, as regiões mais ricas, aquelas onde os pais podem manter seus filhos, forma mais médicos que se dedicam aos grandes centros, onde vivem e onde o exercício da profissão são bem remuneradas. Por outro lado, temos carência de médicos em regiões remotas, nas quais os pais não têm condições para formar médicos.

Nos últimos anos, vemos alguns médicos de origem pobre. Mas alguns é muito pouco. Todo mundo reclama da saúde no Brasil. Mas não temos médicos suficientes com disposição para se dedicar à medicina pública em regiões carentes. E os poucos oriundos de famílias pobres são pouco. O que fazer? Aguardar formação de um exército de médicos pobres para daqui alguns anos?

No ano passado, nossa presidenta visitou Cuba. Afinal de contas, o comércio entre Brasil e Cuba aumentou mais de sete vezes no período de 2003 a 2012, segundo o Ministério das Relações Exteriores. De 2010 a 2012, as exportações brasileiras para Cuba cresceram 36,9%. No ano passado, o comércio bilateral alcançou o recorde de US$ 661,6 milhões. Mas a visita foi além. O que se alinhavou nesta visita, foi uma maior cooperação entre os dois países nas áreas técnica, científica e tecnológica, sobretudo nas áreas de agricultura, segurança alimentar, saúde e produção de medicamentos.

Destaco aqui a medicina, pois depois da Revolução cubana em 1959, a educação e a medicina em Cuba  começou a dar exemplos de sucesso na área social dentro e fora do país. Na área médica, até os dias atuais, Cuba recebe estudantes para a sua faculdade de medicina, e exporta profissionais.

Desde 1959, o desenvolvimento da medicina foi uma das principais prioridades do governo de Cuba, tornando a ilha numa das principais referências na área. Segundo estimativas recentes, Cuba é o país que mais possui médicos por habitante.

No ano de 2012, Cuba formou 11.000 médicos; a formação, que é reconhecida pela sua alta qualidade, em média, leva seis anos para ser completada pelo aluno. Desde a revolução, os investimentos em medicina e o bem-estar social se tornaram nas principais prioridades cubanas.

Dos 11.000 médicos formados em 2010, 5.315 eram cubanos e 5.694 eram de 59 países, abrangendo nações da América Latina, África, Ásia e dos EUA. Os bolivianos correspondiam a 2.400 médicos.

Um intercâmbio na área de medicina favorece ao Brasil e à Cuba.

No Brasil, os estudantes pobres que pretendem se formar em medicina, podem se candidatar a uma vaga em medicina em Cuba através de programa de bolsas de estudo na ELAM (Escola Latino-americana de Medicina), em Havana, capital do país. A cada ano, até 100 brasileiros serão selecionados para cursar medicina naquela instituição. 

A bolsa prevê a concessão de moradia em Cuba, alimentação e estudos de forma gratuita, em iguais condições às dos bolsistas cubanos. Os custos das passagens aéreas de ida e volta correm por conta do estudante. Em alguns casos excepcionais, o governo de Cuba concede também a cobertura dos custos com as passagens aéreas, segundo informa a Embaixada de Cuba em Brasília. Os estudantes devem ter no máximo 25 anos; ter concluído o Ensino Médio, que é o nível equivalente à educação pré-universitária cubana; pertencer a uma família de baixo poder aquisitivo; e demonstrar aptidão física e mental para acompanhar o curso. Os candidatos terão também avaliados seus conhecimentos gerais, tendo em vista a perspectiva de poderem se adaptar e acompanhar os estudos em Cuba.

Em Cuba, conforme sabemos, a situação financeira não é de causar inveja à ninguém. Assim, os governos do Brasil e de Cuba, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde, estão acertando a vinda de 6.000 médicos cubanos para trabalharem nas regiões brasileiras mais carentes, considerando-se o déficit de médicos naquelas regiões.

Não sabemos ainda se os vistos dos médicos importados pelo Brasil serão definitivos ou provisórios, mas de qualquer forma o caminho da cooperação na área da medicina tanto favorecerá a população carente destes profissionais na formação e no atendimento imediato, como aos profissionais de Cuba, que terão oportunidade em nosso país.

Mas há quem seja contra. Algumas publicações, por exemplo, destacam que estaremos trazendo "espiões comunistas" que atentarão contra a política de privilégios existente até há pouco tempo no Brasil, resgatando os tempos da guerra fria (veja aqui).

O que diria a população carente de médicos?