quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O combate à indolência e malandragem brasileiras

Assisto ao noticiário e vejo que as raças inferiores continuam sendo consideradas indolentes e malandras e, por isso mesmo combatidas.

A ideia do brasileiro amistoso e pacífico é mentirosa e baseia-se no "princípio científico" do darwinismo social, conceito moldado por pessoas como Francis Galton a partir dos estudos de Charles Darwin, seu primo, no final do século XIX.

Já não é de hoje que sabemos que o Brasil tem maioria negra ou mestiça devido aos quatrocentos anos de escravidão. Esta maioria, entretanto, não se reflete nas elites provenientes da Europa. E o negro, pelos "estudos científicos" da época eram considerados "raça inferior". Sabemos (embora alguns teimem ignorar) que sequer existe mais de uma raça humana e que os indivíduos têm diferentes características conforme a região de origem, caminhando para uma homogenização devido à mobilidade facilitada.

No século XIX existia a intenção de "branqueamento" do brasileiro em um projeto de sociedade "higienizada" (ainda tentam isso por incrível que pareça) moral e culturalmente através da miscigenação, ideia abominada pelos europeus que consideravam a mistura de raças uma degeneração.

Toda esta baboseira que se pretendia "científica", fez com que o tratamento dado aos escravos fosse diferente do que foi dado aos imigrantes europeus, que chegavam ao Brasil com emprego garantido embora e, por isso mesmo, mal remunerados mas sob regime de colonato, isto é, como colono com direito a parte da produção. E o interessante é que grande parte dos miseráveis e incultos colonos que se dispunham vir, não tinham recursos e recebiam um adiantamento pago através de desconto do rendimento da produção, acrescido de juros, o que os tornavam uma espécie de escravos brancos muito mais baratos do que os negros, já que o proprietário das terras não tinha obrigação de alimentar e vestir os colonos. Assim, alforriavam os escravos para ficar com os colonos, ganhando em troca, o branqueamento da sociedade, embora em grande parte os europeus não tivessem habilidade suficiente para o cultivo que tornou alguns ex escravos colonos.

Para justificar a troca dos escravos por colonos, era utilizado o argumento da indolência e falta de capacidade intelectual da "raça negra", daí o mito da indolência dos brasileiros, na maior parte mestiços mesmo que livres.

O ex escravo alforriado era colocado em liberdade sem a mínima condição de sobrevivência e vagava executando trabalhos subalternos, pedindo ou roubando para sobrevivência, vivendo às escondidas e mentindo sobre sua situação de desocupados, já que esta condição era ilegal e poderiam ser presos, daí a fama de malandros. Estas pessoas mais pobres viviam em condições sub humanas em favelas e cortiços.

Ainda hoje muitos vivem em favelas e cortiços, chamados eufemisticamente de "comunidade" (que deveria ser qualquer conjunto habitacional). São, na maioria, pessoas honestas e trabalhadoras mas sem condições financeiras vivendo em locais onde existem milícias, negócios ilegais e tráfico de drogas

As comunidades, ainda hoje, são considerados locais onde habitam pessoas de raças inferiores que não têm os mesmos direitos das elites, que habitam locais diferenciados e confortáveis sempre defendidos pelo Estado. 

Nunca se deu trégua ao combate à indolência e malandragem dos brasileiros obrigados a conviver com traficantes. Ameaçados tanto pelas milícias ilegais  quanto pela polícia, que defende as pessoas das elites. 

Às vezes existe o amparo às raças inferiores para melhor proteção das elites quando em governos chamados progressistas. Outras vezes, como agora, existe tão somente a repressão. 

Quando nos reconheceremos como uma só raça?


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Ascensão dos mitos no Brasil de hoje

Normalmente, em tempos de crise, o que o pensamento de matriz marxista ou as esquerdas acreditam, é que haverá o reconhecimento da exploração das classes dominantes e a adesão às idéias de matriz socialista. Mas esta não é uma verdade absoluta. A extrema direita, por vezes, tem argumentos que extrapolam o pensamento de matriz socialista, o que explica a ascensão do fascismo na década de 30 e, de novo, nos tempos atuais.

A classe média baixa, por estar acima dos miseráveis, se julga mais próxima das elites e a estas se junta para doutrinação das classes mais baixas, tendo como argumento o apelo à defesa abstrata da família e da nação através da "defesa dos costumes e da ordem", o que leva à xenofobia e ao preconceito.

No Brasil, tivemos outros elementos para a argumentação da "defesa dos costumes e da ordem".

Em primeiro lugar, tivemos a concessão, por parte da elite, da tomada do poder por parte se setor progressista. Progressista mas não de pensamento marxista, podendo, no máximo, ser considerada uma social democracia de viés liberal, que foram os governos do PT. Concessão esta que teve um prazo de validade que vencido desencadeou um processo de retomada do poder pela aparente via democrática embora não tenha tenha deixado de ser golpe, utilizando-se do judiciário para desacreditar não só o PT, mas todos os partidos mais à esquerda do espectro político juntando-os em um só saco com carimbo de PT, embora houvessem diferenças abissais entre tais partidos. Acrescente-se a isto, a campanha midiática massiva para convencer a maioria da população da corrupção de tais partidos que se deixaram colocar neste saco comum com carimbo de PT.

Embora as elites consigam manobrar as massas, o povo não é ignorante e percebe toda a manobra efetuada pelo judiciário e pela mídia fazendo com que se desacredite não só a classe política como um todo, mas também a justiça. Está preparado o terreno propício para a instalação de regime de extrema direita.

Se a mídia e o poder judiciário esperavam pelo retorno da política anterior ao PT, com PSDB e DEM, se enganou.

Tivemos a ascensão de quem se denominou "defensor dos costumes e da ordem". Entra em campo a "Liga da Justiça", que nada tem a ver com o direito; pelo contrário; temos agora justiceiros que condenam sem necessidade de julgamentos que passam a ser considerados inócuos. 

De um lado, um juiz condena um ex-presidente com base em "fatos indeterminados", com apoio explícito e implícito dos tribunais superiores em uma franca agressão ao Direito. De outro, temos a defesa da família, em uma cruzada contra a doutrinação de nossos filhos menores de teorias de permissividade sexual, em escolas públicas, que nunca existiu. Assim, com base em mentiras, apelou-se aos sentimentos de defesa da família, da pátria e de Deus por parte da população que, com sede de vingança contra uma política corrupta e um direito injusto, resolveu por fim a este estado de coisas através dos justiceiros que atuaram em conjunto para a instalação de um regime de extrema direita fascista, preconceituoso e retrógrado não por culpa do povo, mas pela exploração dos sentimentos intrínsecos inerentes ao ser humano. 



Leitura recomendada:
Psicologia de Massas do Fascismo
Livro por Wilhelm Reich