domingo, 12 de dezembro de 2010

Bisbilhotagem e direitos humanos

O episódio da revelação de relacionamento entre diplomatas americanos e da condução de sua política externa são apenas ponta de "iceberg". Existiram, antes destas revelações outros fatos denunciados que não mereceram tanta repercussão.

Destaco um dos casos, onde o laboratório multinacional Pfizer, em 2009, utilizou como cobaias crianças nigerianas, provocando a morte de 11 delas. As mortes foram objeto de investigação pela procuradoria geral do país mas, através de detetives, conseguiram evidências de que o procurador geral nigeriano esteve envolvido em casos de corrupção. Denunciou um caso e "negociou" com o corrupto procurador, seu afastamento em troca do arquivamento das informações, que não mais seriam divulgadas.

Diplomatas norte-americanos participaram da "negociação" denunciada pelo WikiLeaks. Veja mais no site "Opera Mundi".

Mas quem se preocupa com a morte de pobres nigerianos? Quem se preocupa com casos de propinas pagas na Nigéria? Estes fatos revelados podem só ter causado repercussão por lá, pois ninguém mais se preocupa com fatos tão sem importância.

Da mesma forma vemos a indiferença com que são tratados os infortúnios dos favelados cariocas ou paulistas. Um bando de nordestinos negros e pobres que vivem em condições sub-humanas na opinião de quem não liga para a miséria alheia. Até que o problema se agrave e desça para a cidade causando estragos no meio de pessoas brancas, ricas e, por conseguinte, "de bem". Neste momento o problema passa a ter gravidade. Só que as favelas estão dominadas e a lei é ditada pelos bandidos. Neste ponto, para que o Estado se faça presente, é necessária a "negociação" com os bandidos ou a invasão por tanques de guerra e aparato militar sem poder evitar que seus líderes fujam acobertados muitas das vezes pelo próprios policiais que deveriam persegui-los, a custo de propinas que correspondem, muitas vezes, a mais de um mês de seus salários.

Não se trata de simples bisbilhotagens. Informações são armas poderosas que podem influenciar pessoas e devemos sim, nos preocupar com as pessoas sem rotulá-las, sem discriminá-las, pois fazem parte da nossa sociedade independente de sua origem ou condição social. Uma parte da sociedade atinge a própria sociedade.

Seja na Nigéria ou nas favelas de nosso país, devemos participar, denunciar e nos indignar em defesa da parcela da sociedade que, em síntese, é a nossa sociedade.

5 comentários:

  1. Só seria crime invadir site se fosse cartão de crédito ou banco? Pobres favelados ou traficantes de armas e drogas? Crime contra direitos humanos revelados ou baixa segurança do site?

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  2. Seja onde for, não podemos simplesmente calar.
    Valeu Erick.
    Um abraço.

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  3. Tá certo Erick, inclusive a omissão é tão destrutiva quanto a má ação.

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