sábado, 4 de setembro de 2010

Há 49 anos atrás, quando eu ainda morava no Rio de Janeiro...

Lembro-me ainda daquele dia, ou melhor, daquela tarde de 4 de setembro de 1969. Morava em Nova Iguaçu e, naquela época, pegava ônibus na Praça Mauá... Poderia ir de trem, mas àquela hora não dava. Muito cheio e demorado. O ônibus que pegava ia pela Avenida Brasil, Dutra e direto à Nova Iguaçu.Não existia a Linha Vermelha.

Caminhando à pé, saí pela Rua do Acre rumo à Praça Mauá. Ao cruzar a Rio Branco levei um susto com a quantidade de soldados do exército. Muitos que caminhavam pela rua eram parados e revistados. Presumi que alguma coisa de muito grave acontecia. Mas naquela época não se comentavam as notícias com a rapidez que se comenta hoje. Não me lembro se fui ou não parado pelas forças militares ou policiais. Mas lembro que o trânsito estava pior do que de costume. Cheguei a pensar se não teria sido melhor ir de trem.

Depois veio a notícia de que fora seqüestrado o embaixador dos Estados Unidos. Uma carta do MR-8 de autoria de Franklin Martins (hoje sei disso, mas na época não sabia) foi lida nas rádios, como uma das exigências para a libertação do embaixador. Além disso houve a libertação de um grande número de presos políticos, entre eles Vladmir Palmeiras.

Não fora o contratempo do trânsito, a movimentação de soldados e a carta lida, talvez hoje, 49 anos depois, o fato não mais existiria em minha memória. Eu era ainda muito novo.

Fernando Gabeira era também muito jovem e participou do seqüestro que libertou os jovens insurgentes. Naquele tempo ele era de esquerda. Além de Vladmir, outras pessoas hoje notórias, como por exemplo José Dirceu foram libertadas. 

Naquela época eu nem pensava que hoje estaria em São Paulo, pois não conseguia me imaginar fora do Rio de Janeiro, de onde saí um ano e meio depois deste fato por causa dos militares. Mas isto é uma outra história que talvez um dia eu conte... Não foi esta ação que mudou o Brasil, mas a resistência por causa desta ação. Parecia que a unica coisa que aconteceu foi a libertação de alguns presos políticos. 

Hoje o grupo que antes lutou junto contra a ditadura está disperso. Alguns estão na política e são rivais políticos. Mas o importante é que foram as ações populares que fizeram o Brasil se tornar uma democracia. Não as ações armadas, mas a maioria silenciosa foi a maior responsável pelas mudanças que aconteceram. Os participantes das ações de resistência ostensiva devem se lembrar desta época recente e sismar se ações armadas surtiram algum efeito. Posso afirmar que sim. Pois desta forma despertaram a revolta naquela mesma maioria silenciosa que, como eu, sabe que a ditadura foi um período negro da nossa história e que faremos todo o possível para que nunca mais volte a existir.

3 comentários:

  1. Amigo Erick,
    Eu nem havia nascido nessa época, mas tenho conhecimentos dos fatos através das leituras.
    Gostei muito de saber mais detalhes sobre o assunto.
    Parabéns pela postagem.
    Grande Abraço.
    Roni.

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  2. Talvez falte hoje a mesma mobilização de outrora... È a mobilização, o envolvimento, a participação do cidadão em geral que podem gerar resultados no poder público... caso contrário... tudo continuará sempre igual.

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  3. Erick, na luta contra a ditadura existia apenas duas posições, ser a favor ou se opor à ela. Eram todos brasileiros que tinha um ideal em comum. O tempo passou. Não vive a época, por isso acho mais importante saber o que essas mesmas pessoas tiraram de bom e como estão aplicando o que aprenderam. Não gosto do discurso "Lutei contra a ditadura". Todos nós lutamos todos os dias contra o mal que quer invadir a nossa vida e cada época tem o seu mal. Enfim, não vou entrar no campo ideológico, mas não vejo com bons olhos alimentar essa lembrança, porque fica evidente uma certa fragilidade. Que as pessoas lutem agora pela instituição plena da democracia, este é o ideal presente!!
    Não tiro o mérito das suas lembranças, elas fazem parte da sua nostalgia e não de um bando de políticos aproveitadores.

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