O transtorno
Sexta-feira é dia de trânsito intenso em São Paulo. E quem retornava no final de semana foi surpreendido, pois um incêndio de grandes proporções atingiu, na tarde de ontem (17/08/2012) uma favela próxima à Ponte dos Remédios, na zona oeste paulistana. Tratava-se da Favela Areão.
O Corpo de Bombeiros informou que enviou dez viaturas ao local mas teve dificuldade para se aproximar do foco do fogo, motivo pelo qual, de acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o trânsito na Marginal Pinheiros, próxima ao local do incêndio foi interrompido trazendo uma situação caótica para o normalmente complicado trânsito.
O local
O local do incêndio fica próximo à Vila Leopoldina, situada em uma área estratégica, rodeada pelas marginais dos rios Pinheiros e Tietê, que dão acesso às principais rodovias do Estado de São Paulo, como Anhanguera, Castelo Branco, Raposo Tavares e Régis Bitencourt. Possui ainda grandes avenidas como a Gastão Vidigal e a Imperatriz Leopoldina, atraindo grandes complexos indústriais e armazéns de distribuição além de apartamentos destinados à classe média.
O local do incêndio é o mais próximo às marginais e, portanto, um dos mais valorizados. Mas havia uma favela. Havia, pois agora só restam cinzas.
Depoimento de um morador
Na favela morava Aparecido Aurélio Silva, que viveu há doze anos na favela e teve a casa destruída pelo fogo. Ciço, como é conhecido, declarou que nem chegou a sentir o cheiro de queimado antes de o fogo atingir sua moradia. “Não teve cheiro. Quando vi, a porta já estava pegando fogo. Os bombeiros demoraram para chegar, e quando chegaram não deixaram a gente ajudar a apagar”, disse.
Conclusão óbvia
Há pouco tempo atrás houve um outro incêndio em uma favela localizada em outra área valorizada de São Paulo: a Favela do Real Parque no bairro do Morumbi.
Hoje o local onde havia a favela da zona sul que foi incendiada, ficou lindo. Existem prósperos empreendimentos imobiliários sendo construídos levando o progresso e a prosperidade ao já valorizado bairro do Morumbi, que pouco a pouco se livra das favelas existentes em seu redor.
Não esperaremos muito tempo para ver um projeto de revitalização no local onde ficava a
Favela Areão, trazendo valorização para a região privilegiada.
Estamos diante de uma política higenista em São Paulo, onde favelas são sistematicamente incendiadas para dar lugar a prósperos empreendimentos imobiliários sem custo algum para os "investidores" que se benefeciam dos espólios dos miseráveis que habitavam aqueles locais, com um custo mínimo.
Não sou contra o desenvolvimento e a valorização de áreas estratégicas. Só acho que se deveriam encontrar formas menos agressivas para retirar daquelas áreas seres humanos que ali se instalaram e que estão ali por absoluta falta de opção, morando em favelas sem urbanização e sem assistência alguma. Não seria o caso dos próprios "investidores" interessados nas áreas, com apoio das autoridades municipais responsáveis (Prefeitura) fornecessem moradias dígnas aos moradores em troca das áreas ocupadas?
Minha idéia não é posta em prática porque oneraria demais tais investimentos. É preferível que hajam estes tipos de "acidentes" para baratear os investimentos.
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