Não é coincidência. O título inspira-se na obra de Gore Vidal e Francis Ford Coppola, baseado em livro de Larry Collins e Dominique LaPierre que conta a história de quando, na 2ª Guerra Mundial, Paris esteve ocupada. Como a guerra já estava perdida pela Alemanha e com o avanço dos Aliados para recuperar a capital francesa inevitável, partiu uma ordem do próprio Hitler para incendiar Paris totalmente, incluindo seus monumentos e museus.
A situação se assemelha, em alguns aspectos, à que vivemos em nossa cidade. Só que aqui a ordem, ao contrário do narrado no filme, está sendo cumprida e o motivo é outro. Trata-se de uma "higienização social", que procura erradicar favelas e sem-teto da cidade.
Ontem (03/09/2012) tivemos um novo episódio: um incêndio de grandes proporções atingiu às 14h40 diversos barracos da favela conhecida como "Morro do Piolho", no cruzamento das ruas Cristóvão Pereira e Xavier Gouveia, próximo a avenida Jornalista Roberto Marinho, na "seleta" região do Campo Belo, na zona sul de São Paulo. Pelo menos três vítimas, duas com intoxicação e uma com queimaduras de 1º grau, foram atendidas e encaminhadas a hospitais da região.
Antecedendo a este episódio, 28 de agosto passado (há 6 dias atrás) um incêndio atingiu a favela na rua Manuel da Paixão, no bairro Jardim Nadir, na zona leste de São Paulo, próxima a da avenida Jacu-Pêssego, e do acesso à Rodovia Ayrton Senna.
Se fossemos enumerar os incêndios, este post seria demasiado longo. No final de semana passada as vítimas do incêndio da favela incendiada fizeram um protesto impedindo o trânsito na Rodovia Ayrton Senna. A TV mostrou o protesto atribuído a "vândalos" que colocaram fogo na rodovia e nos trilhos da rede ferroviária, mostrando apenas a consequência, mas não o motivo do protesto que se originou com a denúncia de incêndio criminoso.
Segundo os bombeiros, foram registrados pelo menos 32 incêndios em favelas no Estado de São Paulo neste ano. Em 2011, foram 79 incêndios. Em um balanço divulgado nesta segunda-feira, o Corpo de Bombeiros ainda computa 130 incêndios em 2008; 122 incêndios em 2009; e 91 em 2010.
Em 2.003 foi lançado, pela prefeitura, um projeto para controlar todos os focos de fogo em favelas antes que se tornassem grandes incêndios. A ideia se mostrou tão eficiente como simples: equipar algumas casas com extintores e treinar moradores para acabar com as chamas antes que se propagassem para moradias vizinhas. Mas o projeto, embora barato, foi abandonado pelos prefeitos que sucederam aquela gestão.
Foi instaurada uma CPI para apurar a possibilidade de os incêndios se tratarem de uma atuação criminosa. Dominada pela base do atual prefeito, porém, a CPI não realizou qualquer investigação até agora.
Em 2009 uma ação Semelhante foi proposta e aprovada pela câmara municipal, um programa, a ser implantado em 2010, que previa a nomeação de um zelador comunitário, instalação de hidrantes e retirada de “gatos” de energia que previa, no Orçamento de 2011, a dotação orçamentária de R$ 1 milhão mas, segundo as planilhas disponíveis, nada foi efetivamente investido. Neste ano, novamente o montante executado foi nulo.
Não existem ações para evitar os incêndios ou amparar as vítimas que tudo perdem e que acabam por "se virar" como podem. Quem perde são os favelados desassistidos. E quem lucra são as empresas imobiliárias que ganham projetos de "higienização social" ora apelidados de "revitalização", ora de "urbanização".
Vemos que a acusação dos moradores das favelas faz sentido. Se não pela ação, pelo menos pela omissão.
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