O
fato:
Sexta-feira,
15 de junho de 2012: em Curuguaty, próximo à Assunción, Capital do
Paraguai (cerca de 200 quilômetros), o Grupo Especial de Operações
(GEO), da Polícia Nacional, um grupo altamente qualificado e
treinado na Colômbia, se encaminha para o cumprimento de ordem
judicial para desocupação de parte da Fazenda Morombi, com cerca de
dois mil hectares, pertencentes ao Estado paraguaio e ocupada há
algum tempo pelo latifundiário Blaz Riquelme e cai em uma emboscada
do grupo campesino que a ocupava, provocando a morte de 17 pessoas,
sendo seis policiais e 11 campesinos, além de cerca de 50 feridos,
provocando a queda do Presidente paraguaio Fernando Lugo em um prazo
inédito de 30 horas.
O
incrível, de toda esta história, é que um grupo policial militar
com tanto preparo tenha sido vítima de uma ação tão primária.
Existem suspeitas que houve sabotagem interna com o fim deliberado de
provocar a queda do presidente.
O
cenário:
O
Paraguai é um país com extrema concentração de riqueza. Alfredo
Stroessner assumiu o poder em em um golpe militar em 1954 e foi
derrubado em 1989, após 35 anos de sucessivas eleições vencidas
com certeza de fraudes eleitorais, por um outro golpe militar. Os
autores do golpe militar que derrubou Stroessner foi liderado
justamente por membros do governo, do empresariado paraguaio e de
setores de seu próprio partido (Colorado), que se uniram aos
militares. Não se tratou propriamente de uma modificação no status
quo do poder paraguaio, mas a implantação de um regime que
permitisse a alternância do mandatário de acordo com os “interesses
nacionais”, assim entendidos aqueles que satisfizessem à
oligarquia paraguaia.
A
história do Paraguai se pauta por uma sucessão de ditaduras. Desde
a sua independência da Argentina, em 1811, tendo sido destruído por
uma guerra suja em 1840, quando Brasil, Argentina e Uruguai se uniram
(com o apoio da Inglaterra) para depor o ditador de Francia e, mais
tarde houve a guerra do Chaco, quando Paraguai e Bolívia disputaram
aquele pedaço de terra.
Desde
a sua independência, a história do Paraguai tem sido marcada por
ditaduras, golpes, assassinatos e corrupção. Prevalece a lei do
mais rico e mais forte.
O
Bispo:
Fernando
Armindo Lugo de Méndez era o antônimo dos políticos paraguaios. De
origem humilde, se dedicou à religião, tornando-se padre em 1977.
Fernando Lugo se dedicava aos pobres e era um padre adepto da
Teologia da Libertação, muito próximo a D. Hélder Câmara, Frei
Betto e admirador de Leonardo Boff. Mesmo assim se tornou Bispo da
Diocese de San Pedro (Ironicamente, Curuguaty fica em San Pedro). Mas
sua atuação religiosa foi curta, pois em 2004 o Bispo foi
aposentado sem maiores explicações e o seu título hoje é o de
Bispo emérito. Ao que tudo indica, sua aposentadoria foi
consequência de pressões políticas das oliguarquias paraguaias. E
este foi o presidente eleito do Paraguai. Só que não conseguiu
maioria no Congresso.
O
pecado:
Existe
um organismo que une os países sul americanos, a Unasul, cujo
objetivo é a integração entre seus membros. Argentina, Brasil,
Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile, Guiana,
Suriname e Venezuela são países democráticos com forte tendência
social. Não podemos dizer que seja exatamente o que deseja a
oligarquia paraguaia, cuja economia se baseia principalmente na
agricultura, dominada por multinacionais como a Monsanto e a Cargil,
que dominam a União de Grêmios de Produção (UGP), que é a
proprietária do jornal ABC Color, forte opositor do governo de Lugo.
No ano que vem, está prevista eleição no Paraguai e era
imprescindível fazer alguma coisa para evitar o fortalecimento de
Fernando Lugo, que poderia até conseguir maioria no Congresso,
facilitando a conquista de seus objetivos políticos de tornar o
Paraguai uma nação mais igualitária contrariando, portanto, os
interesses dos agentes econômicos paraguaios.
O
contraponto à Unasul, é a Aliança do Pacífico, com o Chile,
Colômbia, México e Peru, que tem como objetivo a integração
financeira e de capitais e integração física, principalmente no
setor energético para a América Latina. Tem apoio dos Estados
Unidos e também da Espanha. A cooperação abrirá as portas do
Pacífico a bases militares estadunidenses, das quais o Congresso do
Paraguai aprovou a instalação de uma delas, localizada no Chaco,
que é a fronteira do Paraguai com Brasil, Argentina e Bolívia, onde
multinacionais americanas pretendem instalar projetos agropecuários.
Naturalmente que o Presidente Fernando Lugo poderia dificultar tal
projeto.
O
grande pecado de Fernando Lugo é justamente o de dificultar as
ambições dos investidores do Paraguai, com as suas ideias de
justiça social.
Pelo seu pecado, foi utilizado o artigo 225 da Constituição Paraguaia, que determina que o presidente pode ser deposto por "mal desempenho de suas funções", mesmo que contrariando o artigo 17 da mesma Constituição Paraguaia que garante o direito à defesa.
Artigo escrito com base em informações de:
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